Emanuel estuda Medicina em Paris quando descobre sofrer do mal de Pott, tuberculose óssea que afeta a coluna vertebral. Parte para Berck-sur-Mer, balneário no litoral norte da França especializado no tratamento da enfermidade. Na cidade, 5 mil pacientes, provenientes de todos os cantos do mundo, se submetem à terapia, que consiste na imobilização do corpo por um colete de gesso. Envoltos nessa carapaça, os doentes são forçados a passar meses deitados, à espera de que seus ossos quebrados e roídos sejam endireitados e consolidados.
Mas, em Berck, eles não precisam ficar restritos à cama. Instalados nas chamadas goteiras, os enfermos locomovem-se com a ajuda de maqueiros e até sozinhos, em charretes adaptadas, puxadas por cavalos. Assim, passeiam, vão à praia, levam uma vida praticamente normal. Sempre na horizontal.
Nesse cenário, o romeno Max Blecher (1909-1938) situa seu romance Corações cicatrizados. Como o personagem Emanuel, ele também recebeu o diagnóstico do mal de Pott quando estudava em Paris, aos 19 anos. Com inesperada vitalidade e até humor, o escritor descreve a rotina dos internos do sanatório de Berck, divididos entre a imobilidade, os desejos, os encontros, as amizades, as paixões
Corações cicatrizados foi adaptado para o cinema e transformado em filme pelo diretor romeno Radu Jude, vencedor do Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim de 2015.