“Ano”, na definição do Diabo, é um “período de 365 decepções”. “Autoestima”, uma “avaliação equivocada”. “Noiva”, “uma mulher com uma ótima perspectiva de felicidade em seu passado”. Já “noivo”, aquele “equipado com uma tornozeleira onde prender a corrente e a bola”. O próprio “dicionário”, de acordo com a definição presente nesta edição, é um “maligno instrumento literário para limitar o crescimento de um idioma e torná-lo duro e inelástico”. Assim se constitui esse compêndio de verbetes, com definições satíricas e ácidas, publicadas ao longo de décadas pelo escritor e jornalista norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914) em jornais humorísticos e políticos nos Estados Unidos.
Em 1911, uma seleção dessas tiradas foi publicada em livro, que se tornou um clássico no seu país de origem. É esta a versão que constitui a edição de Dicionário do Diabo, a primeira em português que traz o texto integral.
A visão cínica e irônica, algumas vezes misântropa e nada politicamente correta do autor, sobretudo em relação à sociedade e à cultura dos Estados Unidos de seu tempo, rendeu notoriedade ao dicionário, que figura na célebre edição das cem maiores obras-primas da literatura americana elaborada em 1976 pelo American Revolution Bicentennial Administration.
Muitos dos verbetes são acompanhados por poemas e citações, adotados por Bierce para contar histórias, ilustrar definições e fazer diversas provocações a seus contemporâneos.