Daniel Belmonte está vivendo. Com a Cabeça pra Fora do Buraco. “Dionísio indo sozinho”, “forever young”, “like a rolling stone”, “na névoa dos acontecimentos”, “como um objeto não identificado”, observado por uma janela entre as tantas janelas de Copacabana, como a janela daquele velho na cadeira de rodas, pensando no passado e na morte. O som e a fúria das freadas dos automóveis, trilha sonora daquelas noites. Ruídos, mas também silêncios. O silêncio de um beijo na mureta da Urca, “sem ninguém junto dele”, entre tantas amizades e pessoas amadas.
Daniel Belmonte vive comendo empadas, bebendo uns negócios, vive fumando uns baseados com aqueles camaradas sempre falando aquelas coisas que as pessoas falam quando encontram camaradas, bebem uns negócios, fumam uns baseados, vivendo.
Daniel Belmonte vive comendo uns negócios, bebendo uma cerveja, fumando uns baseados, resistindo ao cigarro, de noite, naquela angústia, pensando naquela menina, de noite, em Copacabana, tantas janelas à disposição, e o ruído das freadas, pensando, vivendo aquela playlist do spotify, pensando.
O Daniel Belmonte lá, pensando, angústia e entusiasmo, escrevendo com uma facilidade que dá até medo, dando até a impressão de que é muito fácil transformar pensamentos em sequências de palavras, transformando sequência de palavras em poesia.
A literatura de Daniel Belmonte está vivendo solta, Daniel Belmonte é bicho solto e vai ser difícil enquadrar esta Cabeça pra Fora do Buraco numa estante dividida entre gêneros literários. Os poemas de Daniel Belmonte não são bem uns poemas, mas são pura poesia, prosa pura.
Mais aquela eterna juventude de quem escreve vivendo, vive escrevendo, nunca chegando em um lugar objetivo-definitivo, chegando em tantos lugares, em todos os lugares.
Daniel Belmonte está vivendo só, com camaradas, com namoradas, vivendo aquela necessidade premente de se acostumar com a própria companhia, só, quase sempre, vivendo e pensando, embora cercado de gente, vivendo na direção do futuro, onde, num planeta muito, muito, melhor do que a Terra, não há bares com música ao vivo.
Daniel Belmonte vê qualquer coisa na TV e as coisas da TV se transformam em outras coisas na cabeça deste autor que está vivendo este teatro, que talvez signifique alguma coisa.
Daniel Belmonte é um bebê nascendo, criando um mundo novo, nas palavras que já não cabem mais em sua boca.
Daniel Belmonte está vivendo e falando coisas que me interessam.
Daniel Belmonte é carioca. Teve seu romance de estreia, Laura é um nome falso para alguém que eu amei de verdade, publicado pela Editora Patuá. Também é roteirista, diretor e ator. Escreveu, dirigiu e protagonizou os filmes B.O. e Álbum em Família. Cabeça pra fora do buraco é seu primeiro livro de poesia.