"E assim me encontro, um tanto entre a verdade dos dias, outro tanto entre sonhos. Sinto falta da linguagem da infância, a vontade de ver navios, o gosto levemente salgado fazendo a língua falar sem parar.
Penso nos dias assim como sinto a passagem das horas, lentas, quase inertes, um tanto devagar. Olho ao palco para não me desprender da realidade. A verdade é aquilo que criamos aqui dentro, a loucura que toma conta do tempo lá fora é insana e não me ilude mais.
As palavras fluindo como água que escorre sem pressa de se esparramar. Temos aqui um novo universo de coisas vivas, um espaço de se entediar com o experimento ou vibrar com seu fluxo constante. Ando depressa para não perder a linha que me conecta dos desejos aos sonhos. É preciso manter fixo o desejo, a falta da carne, a vontade que faz o impulso ser mais vibrante, até ter força para continuar. Alguns saltam como carneirinhos enquanto eu insisto em cravar com força os meus pés na terra. Esse espaço, enquanto vivo, jamais se deixará devorar por algum vazio. Crio outra vida em cena para escapar da morte. Penso que, às vezes, é de uma invalidez tamanha tentar explicar palavras."
Isabella de Andrade é jornalista, atriz e escritora. Publicou o primeiro livro, Veracidade, em 2015, pela Editora Patuá, e participou da Coletânea de poemas Casa do Desejo – Literaturas que desejamos, lançada pela mesma editora em 2018, na Festa literária internacional de Paraty. O segundo livro solo, Pelos olhos de ver o Mar, marca a primeira experimentação da autora em um romance. Isabella é graduada em Jornalismo e Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB). Idealizadora do projeto de jornalismo cultural oCiclorama (https://www.ociclorama.com). Estuda as possibilidades do jornalismo literário, da poesia, da dramaturgia e uma possível convivência harmônica entre eles.