As cenas e personagens principais deste livro brotaram da imaginação do escritor. No entanto, as ações se situam claramente na zona canavieira alagoana, que ao final dos anos 80 viu a crise do país se somar à ruína local, levando à falência de fazendeiros e à demissão de trabalhadores. A desgraça possibilita a costura de vivências de casarão e casa de taipa. Entrelaçam-se casos amorosos e policiais, com destaque para traições devastadoras e homicídios nunca elucidados. Entram em pauta questões como propriedade privada, machismo e preconceito. As diferentes formas de violência não explicam de todo as tragédias pessoais e coletivas, mas pairam como sombra sob a qual mesmo as vítimas mais resignadas se debatem – o que faz pensar na combinação entre senso de realidade e utopia.
Dau Bastos nasceu em 1960, na cidade de Maceió. É professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde mantém a oficina Contos do Fundão. Tem, entre seus livros, a tese Céline e a ruína do Velho Mundo (EdUERJ, 2003) e a biografia Machado de Assis – num recanto, um mundo inteiro (Garamond, 2008). Dedicado sobretudo à produção de narrativas, lançou Das trips, coração (Marco Zero, 1984), Snif (Marco Zero, 1987), Clandestinos na América (Relume Dumará, 2005) e Reima (Record, 2009). O romance que o leitor tem em mãos forma, juntamente com Mar Negro (Ponteio, 2014) e Espiral (Ponteio, 2017), o que o autor chama de trilogia alagoana, resultante do esforço de recriar ficcionalmente suas raízes, situadas entre o litoral e o agreste.