A narrativa se constitui como um romance em que prosa e poesia se misturam e utiliza o próprio texto para diversificar os recursos visuais integrantes do enredo. A construção da história está dividida em 4 tempos (fusão, espelhose, difração e desespelho), sequência que se relaciona a aspectos presentes na interação entre as personagens, o narrador e o lugar onde se passa a história. Acompanhamos ao longo do texto a chegada, a rotina e os conflitos vivenciados dentro de Lugar Nenhum, o ponto cego do mundo. Num cenário que é, sobretudo, sem luz, observamos ideias que se remetem à escuridão como um aspecto positivo. No delineamento narrativo também são apresentadas diversas nuances sobre o que é identidade, corpo e alteridade. De caráter denso e reflexivo, o romance explora a esperança no obscuro. Além disso, propõe-se uma narrativa fragmentada, escrita puzzle, na qual os elementos se ligam e se completam em uma ordem que se refere, principalmente, a ângulos contextuais paralelos, complementares e paradoxais. Desse modo, o leitor é convidado a reunir, significar e subverter a linearidade textual para (des)construir peça por peça.
Carine Mendes nasceu em Maceió/AL, local onde atualmente reside. A autora é mestre e doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo e atua como professora de Psicologia, psicoterapeuta e escritora. Um primeiro poema aos 12 anos abriu-lhe as portas de um mundo a ser explorado a partir da letra e da palavra-sentimento. No entanto, seu percurso de escrita sempre foi permeado pelos desafios de estimular, separar e conciliar a escrita acadêmica e literária. Nesse embate entre diferentes linguagens e diferentes palavras-efeito, optou-se por sustentar a escrita sobretudo em todavia, o que transforma Ponto Cego no reflexo da busca incessante por reinvenção.