O autor conseguiu condensar numa obra enxuta toda uma mitologia política, humana, social, literária que conformam esses últimos 30 (ou pouco mais) anos do que restou de nossas vidas ou de nossos sonhos.
É um diagnóstico da vida do país, das nossas perplexidades e do nosso desânimo diante do que se tornou esse Brasil, uma terra devastada pelos energúmenos, esses possessos que estão a nos destruir, a reboque de toda uma depauperação de valores e de consciência, em que é tênue o limite entre a civilização e a barbárie, em que a vida e a morte se banalizaram a tal ponto, que não nos deixa outra saída senão, como num passe suprarreal, virarmos personagem de Dias Gomes ou García-Márquez e vivermos os próximos cem anos de solidão bem longe dessa desgraça.
Leonardo Almeida Filho deu vez e voz a vários personagens, cada qual em sua instância foi desfiando o fio desse imenso novelo em que enreda a vida brasileria, as mazelas familiares, o cenário da literatura brasileira, com seus guetos, altares, enfim, em pouco mais de 60 páginas fez uma espécie de ultrassonografia do nosso descontentamento.
Leonardo Almeida Filho (Campina Grande, 1960), professor universitário, escritor, ensaísta, reside em Brasília desde 1962. Mestre em literatura brasileira pela Universidade de Brasília (2002), publicou, em 2008, o seu livro Graciliano Ramos e o mundo interior: o desvão imenso do espírito (EdUnB). Alguns trabalhos publicados: Babelical (Poesia, Patuá, 2018); O livro de Loraine (romance, 1998), logomaquia: um manefasto (híbrido, 2008); contos em Antologia do Conto Brasiliense (2004) e Todas as gerações (2007) e pelo Prêmio SESC de contos Machado de Assis (2011); poesias em Poemas para Brasília (2004) e pelo Prêmio SESC de poesias Carlos Drummond de Andrade (2011). Publicou, com os professores Hermenegildo Bastos e Bel Brunacci, o livro Catálogo de benefícios: o significado de uma homenagem (Hinterlândia, 2010), que aborda o cinquentenário do escritor Graciliano Ramos. Publicou, pela Editora e-galaxia, Nebulosa fauna & outras histórias perversas (contos).