Em má companhia – memórias de infância de um amigo (1885) é um dos livros essenciais para conhecer melhor a obra de Vladimir Korolenko (1853–1921), considerado por Liev Tolstói “um dos principais contistas da literatura de língua russa” e comparado a Charles Dickens pelo crítico Otto Maria Carpeaux.
A novela retrata a amizade de um garoto, filho de um juiz rico, que se envolve com uma turma de meninos de outro estrato social. Por meio dessa amizade, o autor aborda sentimentos básicos de compaixão e compartilhamento, temas que sempre estiveram presentes em seus textos.
Para o resenhista Pablo Pires Fernandes, do jornal Estado de Minas, "as descrições do ambiente e dos habitantes da vila explicitam, de maneira sensível e literariamente bela, a sociedade e os conflitos da época. Através de um olhar ingenuamente infantil, são tecidas relações regidas por uma moral humanitária e sob a lógica da compaixão". Dessa forma, “Korolenko expõe as transformações da Rússia de meados do século 19, que havia abolido a servidão, mas ainda estava sob mãos de ferro imperial e regida por uma casta fisiológica”.
Korolenko nasceu no sudeste do Império Russo, em Jitómir, atual Ucrânia – uma região multicultural, que passou pelo domínio russo, polonês e ucraniano, onde ele situa essa novela. Com 20 anos, foi estudar em Moscou, onde se envolveu com movimentos estudantis – o que lhe rendeu uma deportação para a Sibéria. Foi lá, durante o exílio, que começou a escrever. Preocupado em denunciar injustiças sociais e sofrimentos humanos, o escritor é considerado um precursor da literatura proletária. Chamado por seus contemporâneos de “consciência de nossa época”, obteve tanto a aceitação popular como a dos meios intelectuais.