[...] Detestávamos essas festas. Ele começara a fazê-las para levantar algum dinheiro e pagar o aluguel; eu as frequentava inquieto, incomodado, saindo de tempo em tempo para pegar algum ar, mas prestando atenção ou até participando por vezes, de algumas conversas, por curiosidade morbida ou preguiça de que alguém, me vendo sozinho, não me permitisse escolher sobre o que falar. E falavam: de como os professores eram bons ou ruins; de qual tipo de droga preferiam entre as estimulantes e as psicotrópicas; do fato de você gostar de um escritor por ter lido os livros errados, ou de estar errado por não gostar dele; dos cursos que pretendiam dar quando fossem docentes; do quanto os alunos e professores da capital eram impessoais, secos, e do quanto o vestibular daquela faculdade, "ao contrário do da nossa", exigia robôs reprodutores de apostilas e não seres pensantes; das novas bandas que tocavam no bar que acabara de ser aberto por um punk velho, o Cozinha do Inferno (Sinto-me letal, Som-Fúria-Preguiça, Nação da Desgraça, O Guia do Barman - todas elas promissoras, interessantes). E assim como os assuntos, as pessoas e seus apelidos também eram, quase todos, intercambiáveis [...